terça-feira, 30 de agosto de 2011

A DESCOBERTA DA VELA




Capa da 2ª edição

Ernani Maller

Há muitos e muitos anos, houve um outro Portugal, lá, nesse mesmo Portugal que nós conhecemos hoje. Havia um rei muito empreendedor - D. Manuel - que teve a a intuição de que havia muitas terras em além-mar, por isso decidiu investir na indústria naval para a conquista dos mares. Só que havia um porém, grandes sábios afirmavam que no fim do mundo o mar caía de repente, formando uma imensa cachoeira para o infinito. Mas a intuição do rei era muito forte e, com certeza, havia terras em “além-mar”. Mas como medir os riscos destas viagens, como saber a que distância estava do fim do mundo? Afinal, o rei não tinha o direito de pôr em risco a vida dos súditos que se aventurassem nessas empresas. Por fim, D. Manuel teve uma brilhante ideia, consultar um grande sábio português também chamado Manuel. O rei então pediu ao Sábio Manuel que resolvesse o dilema que o inquietava. Como seus homens poderiam singrar os mares sem o perigo de caírem na cachoeira do fim do mundo? Dias depois, o Sábio Manoel volta ao palácio real com a solução para o problema.

Era impressionante, o Sábio Manoel era realmente um gênio, sobre a grande mesa do salão nobre do palácio, abriu uma imensa planta, na qual se via uma embarcação moderníssima, de vários ângulos podiam ser observados detalhes minuciosamente desenhados pelo habilidoso Manoel, mas o que mais chamava a atenção eram as duas grandes asas. Sim, a embarcação era alada, a única maneira de não cair na cachoeira do fim do mundo, era voando.

Manoel explicava orgulhoso o funcionamento da embarcação, cada um dos duzentos remadores, (cem de cada lado) teria ao alcance das mãos uma manivela, que acionadas fariam com que as asas começassem a bater quando a embarcação se aproximasse da cachoeira do fim do mundo, alçando voo e, podendo assim, fazer uma curva de cento e oitenta graus, pousar novamente no mar e retornar a Portugal. Certamente, a embarcação ainda teria o auxílio das fortes correntezas que deveriam existir naquela região, que lhe aumentaria em muito a velocidade, pois seria necessário estar “a todo pano” para a decolagem.

Toda a explanação do Sábio Manoel foi acompanhada com grande interesse pela a corte e homens ligados à navegação, causando um grande furor em todo país. Portugal entrava em nova era, estava pronto para conquistar os mares.

Muitos séculos se passaram, vários reis se sucederam no governo de Portugal, até que um certo rei que também se chamava D. Manoel, mais precisamente D. Manoel CXXIII, que também gostava muito de navegação, ao observar de seu castelo, que ficava em uma colina, as embarcações atracadas no porto, percebeu que suas grandes asas ocupavam muito espaço, reduzindo assim o número de embarcações que ali podiam atracar, então assim como o seu ancestral, D. Manoel CXXIII também resolveu consultar um sábio de seu tempo, para solucionar o problema de espaço nos portos Portugueses.

No dia seguinte, nas primeiras horas da manhã, se apresenta no palácio o Sábio Manoel Joaquim, rapaz muito culto e grande conhecedor da navegação. Suas anotações sobre navegação iriam inspirar, milhares de anos depois, os fundadores da Escola de Sagres. Depois de explicar a Manoel Joaquim as suas preocupações, D.Manoel CXXIII estipulou o prazo de uma semana, para que o sábio lhe trouxesse uma solução para o caso.

E assim como combinado, Manoel Joaquim volta em uma semana com a solução: “Asas Retráteis”. Este era o nome do projeto desenvolvido por Manoel Joaquim. As asas que até então repousavam na posição horizontal, doravante deveriam permanecer na vertical, ocupando menos espaço no porto e também no interior das embarcações, D.Manoel CXXIII ficou maravilhado. Como poderia ser tão simples uma grande idéia. Então decretou, que desse dia em diante todas as asas das embarcações, deveriam permanecer na posição vertical.

Muita atividade se observou em Portugal por aqueles dias, para que as embarcações se adequassem às novas regras. Em todos os lugares se falava na nova invenção, e o termo “Asas Retráteis” passou a ser pronunciado por todas as pessoas, mesmo as que não tinham nenhum vínculo com a indústria naval.

Porém, algo de muito surpreendente se observou nas primeiras embarcações que passaram a usar o sistema de “Asas Retráteis”, como previu Sábio Manoel Joaquim, tiveram suas velocidades aumentaram espantosamente, as asas colocadas na posição vertical retinha o vento que impulsionava as embarcações com tanta força, a ponto de os remadores serem dispensados. Foi assim que se deu a descoberta da vela.

O Sábio Manoel Joaquim foi aclamado por todos e, usando de sua inteligência, aperfeiçoou ainda mais as asas (agora velas), de modo que pudessem ser manobradas de várias formas, podendo viajar inclusive contra o vento.

Aos poucos o medo das cachoeiras do fim do mundo foi sendo esquecido, com o tempo percebeu-se que o fim do mundo estava cada vez mais longe. De certo se distanciando, fugindo dos bravos navegadores portugueses.

Manoel Joaquim tornou-se uma celebridade nacional e gozou até o fim de seus dias do titulo de “O Inventor da Vela”.

Ainda hoje comemora - se em Portugal “O Dia da Vela”, dia 30 de fevereiro, e muitos portugueses dão a seus filhos os nomes de Manoel e Joaquim, não só pela beleza dos nomes, mas também, para homenagear e manter sempre viva a memória do grande gênio lusitano.

DEUSA DA SENSUALIDADE


Ernani Maller

Eu sou carmim de sol que deita no poente
Brilho de estrela cadente
Lua velha na sertão

Nebulosa a fervilhar em noite silente
Olho de água corrente
Que se arrasta no porão

Sou a verdade que arrebenta em qualquer cara
Pau-de-fogo, pau-de-arara
A voar na imensidão

Sou liberdade de um grito incontido
Dos passos do perseguido,
Sou o norte e a razão

Sou a que tem malemolência de serpente
Pra colher estrela cadente
No azul do teu olhar

Sou a que chora amando contra a corrente
Se eu sou tão indecente
É pra poder te despertar