segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
UMA SEGUNDA MEIA-NOITE
Ernani Maller
João era um seminarista, já havia seis anos que estudava para ser padre, era o que realmente ele queria. Desde sempre foi ligado à igreja católica. Sua mãe, que fora criada em uma escola de freiras, sempre se orgulhou da religiosidade da família, portanto, ela foi a base moral e religiosa do menino João. Desde muito moço João já ajudava nas missas, apesar de uma ou outra travessura, sempre foi um bom garoto. Até que aos treze anos foi mandado para o seminário, para alegria de sua mãe, que não cabia em si de tanto orgulho, ao ver o filho seminarista, e dizia: imaginem, um padre na família.
A vida no seminário era divertida, porém, alguns dos alunos não eram boas companhias, e foi com um desses alunos que João acabou tendo contato com diversas fotos de mulheres nuas e também fotos de cenas pornográficas. Por mais que tentasse, não consegui se desfazer de algumas fotos, que lhe foram presenteadas por Bernardo, um seminarista mais antigo, que tinha fama de fugir do seminário e sair com garotas. João sentia-se pecando, mas as fotos o ajudavam nas noites de solidão.
Certo dia João caminhava por uma praia, quando viu um menino que escrevia algo na areia, João parou e ficou observando aquele menino. O menino olhava para a palma de uma das mãos e logo em seguida escrevia novamente no chão, até que muito curioso com aquilo João perguntou ao menino:_ O que você está fazendo? O menino respondeu _ Estou contando e catalogando todos os grãos de arreia de todas as praias do Planeta Terra. João riu e falou: _ Mais isso é impossível. Então o menino respondeu: _ A única coisa impossível, é alguém esconder algo do meu pai, como aquelas suas fotos, por exemplo. João Sentiu um calafrio percorrer-lhe o corpo, olhou o horizonte, pensando na resposta do menino, quando tornou olhar a criança, ela havia sumido. João, muito confuso, entendeu que Deus havia lhe mandado uma mensagem bastante clara. Então decidiu, assim que retornasse ao seminário daria sumiço àquelas fotos. Continuou a caminhar pela praia, pensando no ocorrido, quando avistou uma senhora, bem velhinha, que estava à toa na praia, porém, quando João passou por ela, a velhinha murmurou: _ Ou some com o material até meia - noite, ou quem some é voçê. Desta vez João ficou apavorado, por que aquela senhora falou aquilo? Será que se referia às fotos? Será de quem era essa mensagem? Já que a primeira, dada pelo garoto, João havia atribuido à Deus, mas essa agora parecia mais do domônio, ou seriam as duas do demônio, e João é que estava sendo um arrogante e prentencioso achando que Deus havia lhe enviado uma mensagem diretamente? Era melhor voltar logo ao seminário e dar fim aquelas fotos, eram as únicas coisas de errado que ele possuia.
Ao chagar no seminário João foi abordado por dois colegas que precisavam tratar alguns assuntos com ele, assim foram para a cela de um deles e lá permaneceram por muitas horas conversando e bebendo do vinho que era utilizado nas missas, que Bernardo havia desviado, quando chegou em seu quarto João percebeu que já passavam da meia-noite. Sim, já eram meia-noite e vinte minutos e nada havia lhe acontecido. Sentiu um grande alívio, olhou as belas fotos que haviam sido motivo de tanta preocupação, depois as guardou e foi dormir em paz, sem perceber que cometia um erro fatal. João não atentou para o fato de o seu relógio estar uma hora adiantado, era horário de verão, portanto, houve uma segunda meia-noite, a meia-noite verdadeira, sua meia-noite derradeira. João nunca mais foi visto.
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